sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Pés descalços


Caminhando sozinho ao som de uma música qualquer
e as idéias sempre pairando sobre a lua...
Ao som dos acordes, levava minha senda submerso no nada.
Seguia aquele andar maquinal, desprovido de qualquer propriocepção.
Uma topada me desequilibrou o corpo. Nada novo.
Sem sequer conferir o anteparo que causara tal embaraço,
Prossegui sem olhar pros lados, ignorando os acidentes da estrada.
O compasso que embala minha caminhada fora arranhado por outro tropeço.
Encabulado com as pessoas que me entreolhavam,
permaneci com a rígida cerviz, seguindo pela rua...
Nao me importava a paisagem, o frio, ou qualquer outro transeunte.
Trilhava por minhas veredas apenas pela canção...
-Ei, moço! Gritou um senhor.
Sem o menor interesse, tirei meus fones, por cortesia.
-Não acha imprudente percorrer essa estrada tão exposto?
-Como?
-É perigoso andar por aí com os pés desprotegidos!
-Meus pés estão devidamente cobertos. Respondi.
-Estás enganado, meu rapaz, porque eu os vejo despidos.
Eu, pensando se tratar de um louco, um bêbado, ou as duas coisas, falei com rispidez:
- Eu nunca saio de casa descalço.
Dou dois ou três passos adiante, e o homem exclama:
-Veja teus pés!
Já sem a menor paciência, incrédulo, olhei para o chão e vi que meus pés estavam completamente nus. E de tão calejados, não reagiram aos cravos e às pedras que os magoaram com as chagas já coaguladas...
Eu estava certo de ter posto um calçado, como sempre faço, antes de me pôr fora de casa.
Nesse instante, senti o calor do sangue enrubescer minha face.
Constrangido, respondi:
-Nao sei o que me ocorreu...
-Apenas, torna teus olhos para trás, meu filho!
Lá, bem longe, eu pude enxergar um sapato caído no chão...

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