domingo, 19 de abril de 2009

Rédea

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Fugiu da sombra da toca
Abriu as cortinas
E ao mundo se mostra.

Saiu da beira do tudo
E hoje decidiu
Ser a dona de seu mundo.

Não mais viver à deriva
Nem ocultar-se nas trevas
Ou chorar como menina.

Gira o leme como quer
E a sua nau conduzir
Ao norte, sul, inferno até.

Andorinha saiu a voar.
Tomou um sopro de vento
E alçou rumo por sobre o mar.



quinta-feira, 9 de abril de 2009

Desconstrução

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A casa ficou torta, meu bem.
Ontem passou um vendaval

A Chuva furou
E o vento arrancou
O nosso teto.

Eu bem que tentei consertar,
Mas acredite, não vai dar.

A porta emperrou,
O vidro trincou
E a janela quebrada.

Não adianta nem chorar
Que não dá pra endireitar.

As colunas `tão bambas,
O reboco rachado
E o chão amarrotado.

As paredes já não seguram os quadros
E o jardim está despenteado.

Vou-me embora apressado
Antes que em mim caia
O restante do telhado.









quinta-feira, 2 de abril de 2009

Doce



A campainha tocou? Não. Ele arrombou a porta. Ou talvez eu a tenha deixado destrancada. Não me recordo muito bem. Apenas me lembro que eu estava um tanto recluso. Tentava esquecer a bagunça que assolava o mundo naqueles dias. Na bandeja, trazia uma folha riscada com a minha letra. Mas eu não havia escrito carta alguma. E sobre o papel, o doce. Como ele poderia saber? Um blefe, talvez. Meu olhar furtivo me denuncia. E em seu rosto, brota aquele sutil ar de riso. Logo me ofereceu. No entanto, nem um dedo ousa se mexer. Uns passos à frente, ele se aproxima juntamente com aquele cheiro que dá água na boca. Se delicia, pode pegar. Permaneci imóvel, todavia. Não satisfeito, põe aquilo a meio centimetro de minhas narinas. Eu apenas temia. É teu. Deixou o prato sobre a mesa e deu de costas. Nem penso. O impulso fez sentir-me um predador. Foi numa bocada só. Como se atreve? Mas... Não! Você nunca irá entender. Vou-me embora. E em meus manjares nunca mais hás de te deleitar.