sábado, 28 de fevereiro de 2009

Ela


Ela, atrasada, cruza a sala de aula carregando a enorme mochila nas costas e uma caixa de Carlton no bolso ao lado. O ar agressivo e o semblante exalava um mistério que provocava medo e encanto. Seu olhar, a roupa, a postura... Tudo realçava a sua beleza original. Ali mesmo eu antevi uma parte do que nós iríamos viver. E ainda fomos muito além.

Bom era sair pra dançar até Ela me carregar de volta pra casa. A nossa casa. Dividimos o mesmo teto! Nunca vivenciei tanto em tão pouco tempo... Mas o que eu cria durar ainda alguns anos está se mandando pra Brasília. Até ontem, eu ainda não acreditava nisso e torcia para Ela ficar. Já entendi as razões. Ela se vai mesmo. Da vida, o doce e o amargo. Sentirei falta dEla, da conversa fiada no boteco da esquina e de corrermos (como) loucos na madrugada silenciosa de Icaraí (risos). É moça, sentirei saudades. Vez ou outra ainda ouço Ela tocando guitarra no quarto dos fundos.




sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Requiem



Liberta-me, oh alma penada!
Destituída és desta grei
Por terra tua senda lançada
Aos vermes já te entreguei.

Sai de casa, devolve minha vida!
Por sete mãos trancada estás
Em sepultura, tua carne jazida
Sob tua lápide, dorme em paz

Em tua pele fria, faca amolada
Sobre teu corpo ferida não faz
Nem bala ardente por arma atirada
Pode afligir o que não vive mais

Todo ferrolho está desatado
Pode ir embora, já te libertei
Eu lancei fora teu corpo estragado
Mas tua semente em mim conservei.


Pés descalços


Caminhando sozinho ao som de uma música qualquer
e as idéias sempre pairando sobre a lua...
Ao som dos acordes, levava minha senda submerso no nada.
Seguia aquele andar maquinal, desprovido de qualquer propriocepção.
Uma topada me desequilibrou o corpo. Nada novo.
Sem sequer conferir o anteparo que causara tal embaraço,
Prossegui sem olhar pros lados, ignorando os acidentes da estrada.
O compasso que embala minha caminhada fora arranhado por outro tropeço.
Encabulado com as pessoas que me entreolhavam,
permaneci com a rígida cerviz, seguindo pela rua...
Nao me importava a paisagem, o frio, ou qualquer outro transeunte.
Trilhava por minhas veredas apenas pela canção...
-Ei, moço! Gritou um senhor.
Sem o menor interesse, tirei meus fones, por cortesia.
-Não acha imprudente percorrer essa estrada tão exposto?
-Como?
-É perigoso andar por aí com os pés desprotegidos!
-Meus pés estão devidamente cobertos. Respondi.
-Estás enganado, meu rapaz, porque eu os vejo despidos.
Eu, pensando se tratar de um louco, um bêbado, ou as duas coisas, falei com rispidez:
- Eu nunca saio de casa descalço.
Dou dois ou três passos adiante, e o homem exclama:
-Veja teus pés!
Já sem a menor paciência, incrédulo, olhei para o chão e vi que meus pés estavam completamente nus. E de tão calejados, não reagiram aos cravos e às pedras que os magoaram com as chagas já coaguladas...
Eu estava certo de ter posto um calçado, como sempre faço, antes de me pôr fora de casa.
Nesse instante, senti o calor do sangue enrubescer minha face.
Constrangido, respondi:
-Nao sei o que me ocorreu...
-Apenas, torna teus olhos para trás, meu filho!
Lá, bem longe, eu pude enxergar um sapato caído no chão...

Blog?! Pra quê?



Para proveitar o tempo ocioso, e também as horas em que não souber por onde começar a trabalhar as inúmeras tarefas pendentes.

Quando estiver transbordando de alegria e surgir o desejo de engrandecer as belezas que se escondem atrás da rotina. Cantar às mais simples gotas e também gritar a revolta e desabafar as angústias.

Ver, sentir, refletir, questionar... Buscar as razões e tentar forjar uma conclusão. Ainda que a resposta surja precipitada, já é ponto de partida rumo às outras possibilidades.

É um estímulo para analisar os mais diversos estados em que um ser humano puder ancorar. Perceber as influências do que nos cerca, trazer à luz o que outrora oculto e entender o que se passa dentro de nós. Em meio a toda essa confusão, ajuda a organizar os pensamentos, a direcionar o turbilhonante fluxo de idéias e até mesmo a ocupar a mente quando as razões se esvaírem e o tédio se instalar.

Uns rabiscos, umas gotas de tinta, e algumas pinceladas. Um ideal, um conceito, um movimento. Não necessitamos de muito para borrar o branco de uma mente vazia. Ou se a pintura, de tão feia, não puder ser retocada, que seja lançada fora. Não faltarão telas anseando por serem preenchidas.