terça-feira, 8 de junho de 2010

Dis.so.ci.a.ção

Invejo teu semblante tranquilo enquanto dormes em minha cama. E eu sigo tentando abafar os meus pensamentos ouvindo músicas de domingo à tarde, e tomando um chá quente para adocicar os lábios. A minha boca, porém, insiste em filar a amarga lembrança da última noite.

Uma chaga a me desatinar de maneira tal, que nem mesmo o torpor de uma embriaguês era capaz de anestesiá-la. Antes, apodera-se de minha fragilidade, e com apenas um golpe me arranca impetuosamente do meu eu, me fazendo tropeçar sobre a minha própria cabeça.

Eu queria fugir desesperadamente. E na partida precipitada, pisoteei a carne que já se achava magoada. O rosto, tomado de uma crua impassividade, ignorou impiedosamente a pele que outrora lhe servira de adorno. E os olhos, borrados em tons de púrpura, furtaram a acuidade que restava à razão.

Agora, ao conseguir unir os meus fragmentos de lucidez, logo me vejo com a carapuça atada. E tardiamente percebo que flagelar o sofrimento, é açoitar o meu próprio corpo. Uma visão que mui penosa é ao olhar, e me traz um aperto mais forte do que a dor visceral.