quarta-feira, 25 de março de 2009

Insônia

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Não há um alguém sequer que faça um barulho.
Do presente, o livro, papel desembrulho.
E nem ouvidos tem pra ouvir minha voz.
Os minutos se passam, as folhas à sós.
Cento e tantos canais na tevê, tudo em vão.
Deixa soar alto essa música, então!
Nem isso traz de volta o contento.
Toda partitura aqui toca em desalento.
Percussão sem compasso, a voz desafina.
Apenas ruídos sem cor, nem harmonia.

Rima se escondeu, caiu da mão.
De mim fugiu toda a inspiração.
Navegar na rede, nem isso interessa.
Vou sair, correr, exercitar a pressa.
Mas preguiça o corpo consome.
Deitar, dormir. Esse é o nome!
De costas, de bruço, cabeça pra baixo...
Nem da cama hoje eu tenho um abraço.

Abro a janela, dia novo a raiar.
A cama não me quis, fui eu pro sofá.


segunda-feira, 23 de março de 2009

Parcial


Venha se encontrar comigo. Já menti pra todo mundo. Eu 'tô morando em outro lugar. Aqui vai ser difícil alguém nos achar. Toma um banho. Traz o colar e as esmeraldas. Põe aquele vestido vermelho e o Chanel que eu te dei. Pega o taxi e segue as minhas coordenadas. Quando você chegar, vai ver o quanto aqui é bonito. Eu fugi de todos e tudo ficou mais facil. Eu já tenho uma nova vida. Do meu passado, agora só você. Mas por favor, não me traga as lembranças que eu deixei para trás. Quero apenas, teu corpo, teu sorriso e teu cheiro. Você é a única parte da qual sinto falta. Mas faz de conta que não me conhece. Quero ver novamente aquele olhar tímido da primeira vez. Como se não houvesse página arrancada atrás deste capítulo. Nada foi deixado pelo caminho. Um perfume distinto me rapta do enredo. Ela traja um vestido de festa e ostenta jóias brilhantes. Olha para o relógio a cada minuto. Espera impacientemente por alguém que nunca chega. Vez ou outra sussurra umas palavras ao ar. Eu estou esperando por você, mas não é aqui. Te vejo de longe. Porque trouxeste tuas malas? Não pedi para não tornar à tona o passado? Na verdade, eu desisti de tudo. Desculpa ter feito você esperar tanto, mas eu não tive coragem. Agora eu já fui embora. E voce não sabe como voltar. Ao lado do jovem, a senhora vestida para uma noite de gala. Deve estar ansiosíssima para o evento. As pernas inquietas e o olhar grudado pulso. Ainda falta algumas horas para o cair da noite.

terça-feira, 17 de março de 2009

(Im)Perecível

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Um cálice de choro
Da dor, faz um côro.
Submerge o sorriso
Sem cor, nem sentido.

Senta à mesa e se farta
Amargor, deixa em carta.
No adeus, sua cura
À navalha, a carne fura.

Descortinada janela
Desnuda a pele dela.
Partido em cacos o espelho
Mostra o tapete vermelho.



segunda-feira, 9 de março de 2009

Censurável

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Grã-fino palanque armado
Pecadilho irreversível, consternar
Febril, guloso, emético
Minha janela antiga
rapto sinfônico, A mirar
Perdoa. Abaixa a temperatura
Arreda extinta ira
Isolando em recôncavo teorema
Caduco desabrigo, cemitério.